Entrevista Vanessa Alves

 




1- Como iniciou seu amor pelas letras? 

As letras sempre me encantaram. Desde a infância, quando eu ouvia as histórias contadas pelos mais velhos, quando brincava de escolinha com outras crianças, quandobrincava de folhear e recortar revistas e jornais, ou quando insistia em saber o que estava escrito nas roupas que eu vestia eram indícios de que eu já era uma apaixonada pelas palavras. Quando aprendi a ler, passei por aquela fase de deslumbramento, de quem percebe que pode ter acesso a tudo o que está ao alcance dos seus olhos, mesmo não tendo plena consciência do que significava a maioria das coisas que lia. Decidi, então, ainda criança, que seria professora e trilhei os caminhos que me conduziram à profissão e ao constante aperfeiçoamento da mesma.



2- Quais dicas você daria aos pais para que as crianças se interessem por literatura?

Acredito que os pais, por serem a primeira e maior referência para seus filhos, detêm grande responsabilidade como incentivadores de suas crianças, inclusive do hábito de ler. Incentivar a leitura correspondea ler diariamente para a criança ou ler com ela, se já for alfabetizada; acompanhá-la em visitas à feiras de livros, sebos, bibliotecas ou livrarias e permitir que a criança tenha contato com vários tipos de livros para que ela possa desenvolver as suas preferências são ações básicas que podem refletir no interesse do indivíduo em formação pela leitura.Penso que, assim como os pais insistem na criação de hábitos comuns às crianças, como ter rotina de higiene pessoal, alimentação saudável, frequência em treinos esportivos, entre outros, a leitura se tornará um hábito que for incorporada à rotina de modo prazeroso.



3- Como é o seu trabalho de incentivo à leitura, com os alunos do Ensino Médio? 

É desafiador incentivar a leitura de jovens que não possuem esse hábito; mas conduzi-los a descobrir o maravilhoso mundo da literatura é algo que faz a docência valer a pena. Procuro trabalhar a leitura em formato de projeto, que por ser mais dinâmico, costuma atrair a atenção dos alunos. Ao promover a conscientização da importância de conhecer as obras a serem lidas, procuro motivá-los ao apresentar minha caixa de livros, comentando com paixão - e um pouco de suspense - a sinopse de cada obra. Deixo-os com a caixa e cada aluno costuma escolher entre os diferentes gêneros apresentados o que mais lhe agrada. Acompanho a leitura semanalmente numa aula dedicada ao compartilhamento de impressões sobre as histórias e esclarecimento de dúvidas sobre a obra e o autor. Quando as turmas precisam ler uma obra específica – geralmente os clássicos exigidos pelos vestibulares – trabalho de modo semelhante: acrescento quizzescomo termômetro da compreensão da obra e costumo trabalhar, de modo interdisciplinar, pedindo que eles transformem a literatura em outra linguagem artística, com a escrita de poemas, elaboração de paródias, animações, produção de maquetes, instalações ou peças teatrais que eles apresentam às outras turmas.



4- Sei da sua afinidade com a pesquisa e escrita de artigos acadêmicos. Fale um pouco desses projetos. 

Meu interesse por pesquisar sobre os processos que envolvem o ato de ler aflorou durante a minha graduação, quando explorei a questão da coerência textual nas histórias em quadrinhos. Após isso, na especialização em Educação Inclusiva, pesquisei sobre a leitura de alunos com dislexia e, por fim, no mestrado, retomei meu corpus de análise, ao pesquisar sobre a linguagem verbal e imagética das HQs, extremamente rica em possibilidades significativas. Atualmente atuo como pesquisadora no Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS, coordenado pelo prof. Dr. Jack Brandão. Produzimos artigos, que são publicados em revistas acadêmicas, desenvolvemos cursos e, anualmente, organizamos a publicação de um livro, com um compilado de trabalhos desenvolvidos pelos membros do nosso grupo.



5- Qual livro você me recomendaria e por quê? 

Por imaginar que você já conhece grande parte dos livros que me marcaram, como Dom CasmurroO Pequeno PríncipeDom Quixote e outros grandes clássicos da literatura, vou deixar como indicação a HQ Louco: Fuga, de Rogério Coelho. Protagonizada pelo personagem Louco da Turma da Mônica, a linguagem extremamente poética da história retrata o personagem na tentativa de libertar um pássaro, que metaforicamente representa a libertação da imaginação no processo criativo. Essa graphic novel é recomendável a você e a todos aqueles corajosos (considerados loucos, por muitos) que não se deixam aprisionar e libertam sua mente, dando asas à imaginação na criação de histórias que encantam leitores.



6- O Brasil é um país de poucos leitores. Qual o legado literário que pretende deixar para seus filhos? 

Não pretendo ter filhos, porém, anseio deixar minha contribuição aos meus alunos, amigos e familiares através do incentivo e motivação ao hábito da leitura.



7- Cite uma autora contemporânea que te inspira e o livro dela que você recomendaria aos seus leitores. 

Gosto muito de duas autoras contemporâneas, apesar de admitir conhecer apenas uma pequena parte de seus trabalhos: poderia citar o poema Pense grandede Mel Duarte, poetisa paulistana que escreve literatura marginal e aborda temas como resistência e preconceito, entre outros de cunho político-sociais; e Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis de Jarid Arraes, cearense, autora de literatura de cordel, que enfatiza as mulheres negras que, apesar de serem importantes figuras históricas de nosso país, não obtiveram o devido reconhecimento por seus feitos individuais e coletivos.



8- Planeja publicar um livro solo? Se sim, em qual gênero? 

Não penso em publicar um livro solo atualmente. Mas, planejo fazê-lo, no futuro. Por desenvolver pesquisa na área acadêmica, acredito que iniciarei por esse tipo de publicação, mas penso em produzir literatura infantil.



9- De que maneira os professores podem contribuir para que os alunos visitem mais as bibliotecas e leiam mais livros? 

Acredito que um dos maiores desafios da educação formal atualmente é descaracterizar a leitura como atividade obrigatória – o que causa maior afastamento dos alunos em relação aos livros – e tentar promover a leitura como um exercício enriquecedor e altamente prazeroso.Promover rodas de leitura na biblioteca ou sala de leitura da escola, organizar e participar de saraus literários, elaborar jogos de perguntas e respostas sobre as obras lidas em formato dequizzes, são atividades que costumam atrair a atenção dos alunos. Além disso, é fundamental respeitar as preferências por temas e gêneros dos estudantes e conscientizá-los sobre a importância e os benefícios do ato de ler. Um último ponto – e não menos importante – é considerar as tecnologias como elementos facilitadores desse processo. Entre os jovens é bastante comum a preferência por leitores digitais como o kindleou olev, por exemplo. Nesse sentido, cabe não apenas aos educadores, mas à sociedade como um todo, acompanhar e procurar lidar da melhor forma possível com a emergência de novos modos de se relacionar com a leitura.



10- Deixe uma mensagem inspiradora para as amigas que escrevem, mas, ainda não tiveram coragem de divulgar seus textos ao mundo. 

Considerando que escrever é uma necessidade de exteriorizar pensamentos e visões particulares do mundo, entendo a dificuldade em compartilhar escritos – que a princípio parecem bastante pessoais – com o público-leitor. No entanto, acredito que quem escreve sem pretensões de publicar seus textos precisa passar por um período de amadurecimento, no qual descobre o valor estético de sua produção, encontra o seu estilo e se encoraja a compartilhar seu conteúdo com outras pessoas. Respeitando o tempo de maturação de cada autor, é importante lembrar que tornar públicos textos guardados é compartilhar um dom, é saber que se pode, com uma poesia, conto, crônica, novela ou romance emocionar, instruir, encorajar, enfim, pode-se marcar a vida de alguém. Quando penso na importância de grandes nomes da literatura brasileira como Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Machado de Assis, Clarice Lispector eCarlos Drummond de Andrade, por exemplo, me convenço do quão importante é incentivar a produção contemporânea nacional, visto que os grandes escritores do futuro serão os autores que produzem na atualidade. 

Gratidão, Vanessa, por esse bate papo incrível. Desejo muito sucesso em sua carreira. 
Aldirene Máximo

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